segunda-feira, novembro 28, 2005

ANDRÉ GRANJO – PERCURSOS DO CURRÍCULO

ANDRE ANDRÉ GRANJO – PERCURSOS DO CURRÍCULO

André Filipe Oliveira Granjo nasceu em Oiã em 1975 e sempre residiu no Troviscal. Aprendeu música desde os 4 anos na escola ”A Tecla” da Palhaça, com o Sr. Álvaro Ferreira na Mamarrosa, ingressando aos 8 anos na Banda Filarmónica dessa localidade. Desde essa idade acompanha seu pai (Silas Granjo) na Banda Marcial de Fermentelos e Orquestra Típica e Coral de Águeda.
Desde 1989 colabora no ensino da música no Troviscal, na escola que viria a dar origem à União Filarmónica. Frequenta, desde os 10 anos o Curso de Clarinete no Conservatório de Aveiro e completa-o depois no conservatório de Coimbra. Paralelamente, frequenta a pré-primária no Centro Social de Oiã, a primária no Troviscal, o Ciclo Preparatório na Escola João Afonso em Aveiro, e todos os estudos seguintes no Instituto de Promoção Social da Bairrada – Bustos, onde completa o 12º ano.
Foi sempre um aluno participante activo em todas as actividades nas escolas que frequentou, obtendo sempre boas classificações. Tendo a biologia e a música como interesses prioritários, e Coimbra como paixão, acaba por ingressar no curso de Antropologia da Faculdade de Ciências. Inscreve-se na Tuna Académica da Universidade de Coimbra, organismo centenário por onde passaram figuras como José Afonso, Egas Moniz, Adriano Correia de Oliveira, Barbosa de Melo, Almeida Santos, ou para mencionar apenas as do nosso concelho, Dr. António Vicente, Dr. Armando Reais Pinto e Dr. Carlos Pereira, e tantas outras personalidades ilustres. Na história centenária desse Organismo o André foi o primeiro caloiro (ao tempo com 19 anos) alguma vez escolhido pelos “doutores” para maestro da Orquestra da Tuna.
Em 1995 cria o Grupo de ”Rags”, integrado na Tuna, e dirige estes grupos por todo o País, Espanha, França, Itália, Eslováquia, Macau, em centenas de apresentações, e lá continua, 11 anos depois. Estuda interpretação, direcção coral e instrumental com importantes maestros portugueses e estrangeiros. Foi maestro convidado do Orfeon Académico de Coimbra e do Orfeon da Casa do Povo do Troviscal. Licencia-se em Antropologia, sem nunca deixar de participar activamente na Banda da Mamarrosa e na União Filarmónica do Troviscal, sendo, em 2001, escolhido para a dirigir. Continua o trabalho que estava a ser desenvolvido por seu pai e prestigia o Concelho e o País à frente dessa jovem Banda nas deslocações a França (2001), Holanda (2002) – onde teve a classificação de excelente, sendo considerada a melhor banda entre 30 participantes de todo o mundo – várias vezes a Espanha, República Checa (2004) – onde foi representar Portugal no festival comemorativo do alargamento da União Europeia. Naturalmente, dirige a Banda, nas actuações em muitas e variadas localidades do País.
Em 1997 ajuda a organizar e participa no sarau, exposição e homenagem a José de Oliveira e Banda Escolar do Troviscal, aquando do lançamento do livro - “Rio de Memória”, de Leocádia Pato. Em 1998 participa na organização da exposição e Conferência sobe música no salão das Obras Sociais da Mamarrosa, aquando das comemorações do centenário da Restauração do Concelho de O. Bairro.
Estas vivências, estes contactos desde criança com pessoas ligadas aos mais variados tipos de manifestações musicais e culturais levam-no a fazer um pequeno projecto para um centro de documentação digital sobre a música no Concelho, que entrega na Câmara, a que esta não dá seguimento, mas que utiliza depois para iniciar o processo de criação do Museu de Etnomúsica. Em Março de 2000 organiza, com muito sucesso, as Primeiras Jornadas Nacionais de Etnomusicologia, em Coimbra, e nos finais do mesmo ano faz a catalogação dos aerofones da colecção de instrumentos de Michel’angelo Lambertini pertencente ao Museu Nacional da Música, cuja identificação era difícil por não haver inventário desde 1914. Este trabalho está publicado no Catálogo/livro da exposição de homenagem a Michel’angelo Lambertini, editado pelo Museu da Música em 2002 (pp. 271-281).
Em 2001 completa um estágio profissional, de 9 meses, na Delegação Regional da Cultura do Centro, em contexto de trabalho real, na função de Antropólogo. Obtém o aproveitamento de Muito Bom, com a indicação de que “os objectivos foram quase todos atingidos, revelou capacidade de trabalho, conhecimentos, sentido de responsabilidade.” Por todo o trabalho desenvolvido, a Srª Delegada Regional da Cultura acrescenta que o André “revelou qualidades que o vão tornar um profissional de excelência”. No plano académico possui parte de um Mestrado em Ciências Musicais na Universidade de Coimbra e em Outubro tem as provas finais para a Pós Graduação em Direcção de Bandas. Tem estado a frequentar este curso no Conservatório de Maastricht na Holanda, com o Maestro Jan Cober, as provas serão em Espanha, e poderá ser o 1º Mestre Português em Direcção de Bandas.
Em 2003, em negociações, realizadas com o apoio da câmara, trata do projecto de construção e projecto de criação da Escola de Artes da Bairrada. Propõe um Director Administrativo e um Director Pedagógico e submete às entidades competentes (DREC) o processo para autorização de funcionamento. Posteriormente, a mesma Câmara suspende o processo, afasta-o do projecto, mas vem retomá-lo com as mesmas pessoas por ele indicadas, porque foi o único meio legal de abrir a Escola ainda em 2003/2004.
Em Junho de 2004, já como estagiário na Câmara, frequenta o Curso para Técnicos e Técnicos Superiores, no Centro de Estudos e Formação Autárquica de Coimbra, faz todas as unidades, e completa-o com a nota final de 17 valores. Tem vários artigos preparados para a Enciclopédia da Música Portuguesa do Século XX, uma colaboração com o Instituto Nacional de Etnomusicologia, que será editado pela Universidade Nova de Lisboa.
Em 4 de Novembro de 2005 participou numa mesa redonda sobre a história das Tunas Académicas da Universidade de Coimbra, formada também pelos Drs. Almeida Santos e Fernando Rolim e moderada pelo Prof. Doutor Polybio Serra e Silva.

domingo, outubro 30, 2005

REGULAMENTO DO CEMITÉRIO/1922

Em sessão ordinária de 16.04.1922, a Junta de Freguesia de Bustos deliberou regulamentar as normas de utilização do Cemitério. Dos doze artigos do regulamento, o 1º é reservado às obrigações do coveiro.
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1º REGULAMENTO DO CEMITÉRIO

Artigo 1.ºÉ de obrigação do coveiro

1.º Enterrar os cadáveres que lhe forem apresentados com guia por onde se prove que foi pago o respectivo covato;

2.º As covas terão 65 centímetros de largura por 1,70 m de comprimento e 1,22 m de profundidade separadas umas das outras por um espaço de 0,70 centímetros[1] por todos os lados;

3.º As covas para crianças terão a largura de 0,35 m por 0,80 m de comprimento e um metro de profundidade;

4.º Tapar as fendas e abatimentos que se formam nas sepulturas deitando sobre elas a terra precisa para que fiquem abauladas;

5.º Arrancar as silvas e outros arbustos nativos, conservando o cemitério em perfeito estado de limpeza e asseio;

6.º Cumprir as ordens emanadas do Presidente da Junta.

Artigo 2.º Fica proibida a colocação de lápides, mausoléus, grades ou quaisquer outros distintivos em sepulturas particulares sem prévia autorização da Junta, e apresentação da respectiva planta do alçado, ficando um exemplar arquivado na respectiva secretaria, se essa planta for aprovada.

Artigo 3.º Cada lápide, mausoléu ou grade não poderá ocupar mais de 35 centímetros de largura nem mais de 1,80 (m) de comprimento, alinhando umas com as outras, sob a responsabilidade do coveiro que assistirá, a pedido dos interessados, a estes serviços, por cujo trabalho receberá dos mesmos interessados, a retribuição devida em harmonia com o tempo perdido. Os mausoléus de crianças, lápides ou grades não poderão ocupar mais de 60 centímetros de largo, e 1,30 (m) de comprimento.

Artigo 4.º Os que ocuparem maior superfície que a designada no artigo anterior, ficam obrigados apagar à Junta o preço de uma sepultura a mais visto que, pouco ou muito que ocupem em sepultura não adqui(r)ida, esta fica inutilizada por não ficar com as devidas dimensões.

Artigo 5.º A cantaria empregada em lápides, mausoléus, capelas ou outra obra de arte, será aparelhada fora do recinto do cemitério, e não poderá ser encostadas a plantas ou arbustos que orlam as ruas e servem de ornamento no cemitério.

§ único Fica igualmente proibido cortar ou arrancar buxo ou plantas que servem de ornamento ao cemitério, ficando os infractores responsáveis pelos prejuízos e sujeitos a responderem em processo criminal.

Artigo 6.º As escavações para jazigos, capelas e outras obras serão executadas sob a vigilância e responsabilidade do coveiro, serviço este que será retribuído pelos interessados; e a terra saída dessas escavações ou fundações, não sendo necessária, será retirada do cemitério pelos interessados.

Artigo 7.º As autorizações de que se trata no art.º 2.º serão atribuídas conforme a determinação da Junta.

Artigo 8.º Fica expressamente proibida a exumação de qualquer cadáver antes de cinco anos a contar da sua inumação.

Artigo 9.º Se dentro do cemitério aparecer algum cadáver sem formalidades do costume, deverá este facto ser participado à competente autoridade local que deverá ali aparecer dentro de vinte e quatro horas. Não aparecendo (a autoridade) o cadáver será sepultado em cova separada.

Artigo 10.º De três em três anos os donos dos jazigos, mausoléus e outras obras d’arte, mandarão limpá-los, avivar as respectivas letras e pintar as portas e grades de ferro.

Artigo 11.º As ossadas e outros despojos cadavéricos não poderão ficar à superfície da terra.

Artigo 12.º As famílias que adquirirem terrenos para jazigos ou sepulturas perpétuas, pagarão, além de covato, a retribuição que a Junta arbitrar, conforme estabelece o art.º 6.º do decreto de 8 de Outubro de 1835.
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[1] refere-se a 70 centímetros, já que seria (e é) extremamente difícil medir 7 milímetros de terreno.

quinta-feira, outubro 27, 2005

ADRIANO MOREIRA: A IDENTIDADE NACIONAL

Ninguém escolhe a Nação em que lhe acontece nascer, mas é um acto de liberdade decidir ficar. Na experiência ocidental, o facto de essa comunidade corresponder a uma cultura de solidariedade com raros, se alguns, outros modelos equivalentes, determinou uma evolução consistentemente apoiada e dirigida no sentido de haver uma coincidência entre a Nação e o Estado, e por isso fazendo do Estado Nacional soberano o modelo ideológico da área cultural mais vasta dos europeus.

O conceito, que não foi apenas inspirador de projectos pacíficos de governo e de relacionamento internacional, projectou-se no mundo hoje globalizado em termos de os recentíssimos Estados nascidos da descolonização proclamarem um nacionalismo de projecto, deste modo assumindo que pretendem orientar o seu povo para um modelo final de nação, que solidarize os pluralismos internos acomodados dentro das fronteiras que as hegemonias exteriores definiram.

Acontece que ao mesmo tempo em que este valor se mundializou, a rede de interdependências que a ciência, a técnica, e a teologia de mercado, teceram ao redor da terra, globalizando as exigências de gestão e de reinvenção da governança internacional, produziu uma evidente crise do Estado soberano, a qual se traduz numa nova hierarquia efectiva das potências, em soberanias cooperativas agrupadas em grandes espaços, e também em perdas de capacidade para realizar os objectivos que historicamente foram incumbidos às soberanias, fazendo multiplicar os Estados exíguos, isto é, em declínio de exercício no mundo contemporâneo.

Tudo isto são evoluções dolorosas em que também participamos, mas seria um erro de graves consequências não reconhecer que a crise do Estado soberano não significa crise do Estado nacional, que em mais de uma circunstância histórica desafiante foi uma realidade que despertou, cresceu, e tornou vigorosa a energia capaz de reformular o seu conceito estratégico, tendo como primeira tarefa desembaraçar o ambiente de pessimismos, de autoavaliações depreciativas e deprimentes, de estados de espírito demissionários, de contaminações da decisão de ficar. A atitude que se traduz em regressar à meditação sobre a identidade nacional, peregrinando pela herança dos que sonharam, racionalizaram, apoiaram, implantaram, defenderam e legaram o conjunto de referências da história vivida, dos mitos, dos modelos racionais, e dos valores éticos que definem a maneira portuguesa de estar no mundo, tal atitude proclama a decisão de pôr em evidência o alicerce de que com maior segurança se tem de partir para responder, com novo vigor, e de maneira activa, aos desafios que se perfilam e às incertezas que não se desvendam. Não há que supor que a globalização, cujo dinamismo é ainda deficientemente conhecido, poderia deixar de criar uma definição de valores em função da unidade em estruturação, nem é de recear o inevitável fenómeno da creoulização dos modelos de comportamento em consequência da libertação e encontro de todas as culturas antes separadas por estruturas políticas e afastamentos geográficos, porque foi de um processo semelhante que emergiram as nações, e algum tecido novo deve emergir em resposta ao reconhecimento de que o mundo é a casa comum do género humano.

Esta evolução desactualizou todos os conceitos políticos que foram dominantes até ao fim da guerra de 1939-1945, e nesta data a relação de confiança das sociedades civis com as estruturas governamentais clássicas está afectada em todo o espaço ocidental, a comunicação entre as estruturas supranacionais e os povos é débil, a governança internacional espera reinvenção, a carência de lideranças é notória.
O apelo à avaliação do futuro dos valores vem de sedes espirituais diversificadas, e de homens de variada filiação cultural, como Edgar Morin, Mohammed Arkoun, Paul Ricoeur, Jacques Derrida, Fay Chung, Nadime Gordimer, Jérôme Bandé, juntos com muitos outros em meditação, na qual não pode estar ausente a UNESCO, nem o PNUD com a sua voz a favor dos submetidos à geografia da fome.

Nenhum país está imune em relação a este ambiente que, por muitas latitudes, produz o efeito colateral do desânimo, do pessimismo, da falta de referência, da passividade que é o contrário da virtude do civismo. As sociedades civis, como acontece entre nós, parecem envolvidas por um tecido de polémicas e imagens que se distanciam da realidade, deixam na penumbra o conceito da vida angustiada das comunidades mergulhadas na incerteza, mas ainda assim a tentar exercitar a voz e o poder dos que não tem poder.

É neste ambiente, longe das euforias mas não da coragem, que os chamados homens bons da tradição, os quais exercem as responsabilidades da vizinhança, guiam as atenções para o eixo da roda que são os valores da identidade, regressam à escuta das vozes que no passado ampararam a resposta às incertezas de cada nova conjuntura, reforçam o tecido que dá forma à comunidade, organizam o alicerce no qual se firma a bandeira da ambição cívica, do projecto de novos futuros, da determinação e da esperança. Esta cerimónia é exemplo de muitas outras, com variados modelos, que se multiplicam pelo país não noticiado, e a solenidade que lhe é emprestada pela presença do Chefe de Estado é certamente uma contribuição valiosa para que a sua voz ganhe em sonoridade e alcance.

Porque a situação de angústia em que se encontra a comunidade portuguesa, que na vida da mesma geração sofreu alterações do ambiente interno e externo da sua identidade com raros precedentes, exige o sobressalto do civismo dos homens comuns, o rigor no exercício da responsabilidade irrecusável na escolha de lideranças, uma visão clara do que nos faz viver juntos como povo, determinação sobre a forma e a substância do modelo de sociedade que assegure a viabilidade da independência nos condicionamentos do terceiro milénio.

A humildade de escutar as mensagens dos que ao longo dos tempos procuraram contribuir para enriquecer o património de experiência que nos foi legado, vai de par como o orgulho de estarmos entre os herdeiros. Porque se ninguém escolhe o povo em que lhe acontece nascer, a decisão de ficar é um acto de liberdade e de amor pelo passado, um acto de partilha da responsabilidade pelo presente, um acto de confiança na construção do futuro.

A gesta portuguesa definiu a primeira grande linha de reestruturação do globalismo que hoje condiciona a totalidade do género humano, em todo o caso com uma teologia de mercado a traçar um distanciamento conflituoso entre os países mais ricos, que organizaram um Conselho de Segurança informal no G-8, e os mais incluídos na geografia da fome que, invocando o espírito de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, lutam por ter voz, presença, e equidade.

As teses do conflito de civilizações parecem receber uma sangrenta confirmação nos factos, os mitos raciais vão sendo absorvidos numa teoria crescente de mitos culturais, o multiculturalismo perturba as sociedades europeias, Huntington teme pela identidade americana no seu Who are We? do ano passado.

É evidente que nenhuma expansão se verificou sem passivo, e no caso português é conveniente ler Diogo do Couto a par de Luís de Camões. Mas não pode também ignorar-se que as finais emergências, com a enorme expressão do Brasil, de Cabo Verde, dos pólos hoje dinamizadores das sociedades civis das restantes antigas colónias, foram possíveis apenas por um sentido de igual dignidade das etnias, da troca de padrões entre culturas diferentes, de miscenizações sem teorias de desenvolvimento separado, da regra de aceitar os filhos como sacramento laico das uniões, de considerar o povoamento como decisão de naturalizar as terras como portuguesas.

O fim do Império Euromundista, na sequência da guerra civil ocidental de 1939-1945, se fez chamar às várias Romãs todas as legiões ocidentais não apagou esses valores semeados ao redor da terra, que apoiam a reinvenção urgente da nova ordem mundial, não apenas a partir dos Estados nascidos ligados pela língua portuguesa, que também é nossa mas também é deles, valores articulados pela diáspora desta Nação Peregrina em Terra Alheia que em grande parte somos, e todos desafiados a construir o futuro pacífico dos povos.

Um futuro que aponta para assumir a dimensão da comunidade portuguesa muito para além das fronteiras geográficas que evolucionaram para apontamentos administrativos, muito para além das fronteiras económica e política que se confundem com as europeias, muito para além da fronteira de segurança que é a da aliança, mas abrangente das comunidades de portugueses, descendentes de portugueses, e filiados na cultura portuguesa, espalhadas pelas sete partidas do mundo, mas não esquecidas das raízes, das origens, nem indiferentes ao futuro.

Um futuro partilhado sempre que consigamos que os que vivem no continente americano se inquietem com os que se fixaram em África, estes com os dos territórios europeus, ou europeus com os que ficaram pela Ásia, e todos com cada um, e cada um com todos. Porque este monumento hoje inaugurado define uma identificada solidariedade humana muito para além de todas as fronteiras, muito para além da geografia dos poderes políticos, transfronteiriça, pacífica, cooperante, aberta ao mundo, às diferenças, às trocas de padrões. Uma solidariedade que fortalece o exercício do poder dos que não têm poder, para ajudar a reinventar uma nova governança mundial que assegure o desenvolvimento sustentado em paz dos povos que viverão o terceiro milénio.

Oliveira do Bairro, 27/10/05

ADRIANO MOREIRA
Presidente do Conselho Nacional de Avaliação do Ensino Superior
Professor Emérito da Universidade Técnica de Lisboa

quinta-feira, fevereiro 03, 2005

Cegada 2005: Vira

Já lá vão uns anos
Que temos virado
Porém só nos enganam
É o nosso fado

Eles não têm pressas
Para trabalhar
É tudo promessas
P’ra nos enganar

Refrão

Vira p’ra esquerda
Vira p’ra direita
Muita gente diz
Que o nosso país
Já não se endireita

Cheirámos a rosa
E agora a laranja
Um pouco amargosa
É o que se arranja

E o Zé Povinho
Está pouco contente
São todos iguais
Só o cheiro é diferente

Refrão
Vira p’ra esquerda
Vira p’ra direita
Muita gente diz
Que o nosso país
Já não se endireita

Cegada 2005: Censura

Há trinta anos atrás
Acabou a ditadura
Mas passados tantos anos
Ainda temos a censura

A censura esteve sempre
Mais ou menos disfarçada
E temos aqui o exemplo
Do nosso Jornal da Bairrada

Se o artigo for azul
É composto e alargado
Mas se for laranja
Não há espaço e é cortado

Vamos falar com cuidado
Pois há gente que não gosta
E vejam o que aconteceu
Ao Dr. Milton Costa

Que por falar as verdades
E por levar a melhor
Teve sérias dificuldades
Com o plano pormenor

O Jornal foi publicando
Com isenção sem igual
Só que não nos informou
Quanto à sentença final

E eu o pobre leitor
Fico até desapontado
Se a notícia não foi pública
Quem terá sido o culpado

Mas isto é mal que se pega
Coisa assim eu não vi
Veja o que aconteceu ao Marcelo
No canal da TVI

Falava a verdade crua
Pensando não fazer mal
Só que foi posto na rua pelo Pais do Amaral

Cegada 2005: Bustos

Sou nascido em Bustos
E penso que não mereço
Que não exista um aviso
A indicar o cabeço

A Junta de Freguesia
Tm que acertar o passo
Em vez de indicar Cabeço
Diz que ali é pr’o Tabuaço

Vou falar-lhe num assunto
Que o vai deixar a pensar
Se ao domingo for à missa
Onde vai estacionar?

Tem que ser na avenida
Ou na estrada principal
Ou na rua da capela
Se não houver funeral!!!

Estacionar quando vai à missa
Começa a ser um tormento
E onde vão estacionar
A dias de casamento

Na rua ao pé da Junta
E do Polidesportivo
E vai para a missa a pé
Que lhe faz bem meu amigo

E se não servir aqui
Eu digo sem brincadeira
Se gosta de andar a pé
Pode ir estacionar à feira

O que eu muito lamento
E olhem, não é mania
Em dias de casamento
Onde tiram a fotografia?

Pois fizeram lá um muro
O que me dá muita pena
E agora a escadariaÉ muito, muito mais pequena
Vou fazer uma pergunta
A quem souber responder
Onde é que fica na Póvoa
O prometido parque de lazer

Ainda bem que não o fizeram
E eu até estou contente
Pois à dias no minigolfe
Houve um grande acidente

Se não fizeram o minigolfe
Deixem lá pois não tem mal
Pois está a andar com força
O desejado Bairro Social

Quanto ao bairro social
Todos sabem, está parado
Tem caído muita chuva
E o terreno está pesado

Ó Sr. Presidente da junta
Veja se faz algo por nós
O Bairro social do cabeço
Era para ser no tempo dos meus avós

O bairro Social do Cabeço
Era uma coisa importante
Vamos lá Sr. Engenheiro
Levar isto p’ra diante

Levar isso p’ra diante
E não se vai arrepender
A linda vila de Bustos
Tem direito a crescer

Tem direito a crescer
Mas não só para os mais nobres
Devem dar a oportunidade
Às pessoas mais pobres

Rapo tanto na cabeça
Parece que tenho piolhos
Estou farto de tanta promessa
E levar com tanta areia nos olhos
È isso que eles dizem
Mas são um pouco aldrabões
Mas talvez seja verdade
Pois este ano há eleições

Tem lá cuidado com a língua
Pois está cheia de veneno
Eles de 4 em 4 anos
Vão sempre lá cortar o feno

Bustos está em progresso
E não há Vila igual
Temos de dar o nosso apreço
À iluminação de Natal

A noite parecia de dia
Com tanto arco em fila
Nota-se bem a diferença
Depois que Bustos é Vila

Então no centro era demais
Tanta luz qual mar imenso
Até fazia lembrar
A arcada de S. Lourenço

Para a próxima tenham, cuidado
E nós vamos avisar
À noite só com óculos de sol
Olhe que pode cegar

A promessa foi cumprida
Palavra de gente fina
E agora temos em Bustos
Uma bonita piscina

Mas avisamos a todos
Para terem muito cuidado
Se alguém for para a piscina
Pode morrer afogado

Com trinta metros de fundo
Dizemos nós com razão
A maior piscina do mundo
Temo-la no Barreirão

Cegada 2005: Amigo Zé

Amigo Zé

Não tem casa nem caserna
Nem casos como a moderna
É um pobre Zé ignorado
Quando chegam às eleições
Com promessas e palavrões
Lá volta o Zé a ser lembrado

Habituado a estas andanças
Tudo para ele são poupanças
Porque não tem para gastar
É um humilde cidadão
Mal ganha para o pão
E farta-se de trabalhar

Outros sem trabalhar
Levam a vida a falar
Em nome da sua nação
Pois naquele parlamento
Não se calam um momento
E ganham um bom montão

A vida portuguesa
É mesmo uma beleza
Para que está a governar
Muito gostava de ver
Certos senhores viver
Com o que o Zé está a ganhar

Aguentam amigo Zé
Não deves perder a tua fé
Nem te deixes amedrontar
Porque as medidas de rigor
Impostas por certo Senhor
São mesmo para te tramar

Cegada 2005: Marcha

Marcha

É sempre animação
Bem disposta e contente
Não fala do coração
Esta nobre e boa gente

Ninguém fica magoado
Com aquilo que dizemos
É este o nosso fado
Falamos daquilo que vemos

A sério e a brincar
Ninguém vai levar a mal
É só falar por falar
Em tempo de Carnaval

Refrão

Viva a nossa cegada
A brincar ao Carnaval
Fala por tudo e por nada
E brinca dizendo mal

É animação do povo
Gente simples e pacata
P’ro ano cá estaremos de novo
P’ra cortar na casaca

Boa tarde minha gente
Boa tarde bom povo
P’ra este dia ser diferente
Cá estamos de novo

Cá estamos de novo
P’ra cumprir a tradição
Animando assim o povo
Com boa disposição

(...)

E agora p’ra terminar
Dêem-me alguma coisinha
E p’ra boina vão deitar
Ao menos uma moedinha